terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Futebol-Arte da vida


É muito legal imaginar cada posição de futebol como um esporte diferente. Cada um tem uma missão dentro de campo. Por exemplo, me arrisco a dizer que Friedrich Nietzsche era aquele rejeitado que jogava na zaga. Um frustrado com a vida como aquele que quis ser atacante, mas era sempre escolhido por último na hora de formar o time, mas ao contrário dos zagueiros de origem que sonham um dia serem os heróis, Nietzsche vivia sem qualquer perspectiva de vida e se recolhia à sua insignificância. O ponta-direita é aquele que pinta, borda, faz estripulias com a zaga adversária e deixa o camisa 9 na cara do gol, na certa Pablo Picasso e seus traços, por hora vivos, por hora malucos e por hora enigmáticos a ponto de surpreender, jogava pela ponta esquerda, e certamente deixava o Pedro Almodóvar na cara do gol, aquele que queria ser o único (espanhol) famoso, mas que além de seus gols tinha alguém como Picasso que por vezes roubava a cena. A esta altura você já começa a se perguntar: "Quem diabos seria o goleiro dessa miscelânea de personalidades marcantes?" Ora, quem seria melhor goleiro que Franz Kafka? Um cara que fosse o pior ou fosse o melhor, o medo de virar "um gigantesco inseto" no dia seguinte era o mesmo, afinal qualquer goleiro está sujeito a falhas e elas podem comprometer tudo. Fazendo companhia a Nietzche na zaga, Woody Allen estaria sendo aquele típico zagueiro irreverente, aquele que faz as estripulias de um ponta-direita na zaga para aparecer para todos, e o faz com louvor, pois nunca "entrega a paçoca" e sim faz com lances geniais, o preço do ingresso valer e a humilhação adversária se concretizar, afinal, sofrer lances geniais de quem só está ali para aparecer e que não quer nem um pouco ser atacante, porque a melancolia lhe causa beleza, é de fato humilhação. Nas laterais, Fiódor Dostoiévski e Sigmund Freud atingiam em cheio a mente e o coração humanos, atingiam na medida, como um perfeito cruzamento da linha de fundo deveria ser, bem na cabeça do atacante. Poderia dar a maestros como Antonio Vivaldi, Ígor Stravinsky e Richard Wagner, a camisa 10 por serem grandes maestros, mas preferi distribuí-los no meio para cadenciar o jogo, embelezar o toque de bola nos contra-ataques e sem dúvidas, dar show para a torcida ver como a plateia que via as obras desses verdadeiros nomes da história da humanidade. Mas de longe, o camisa 10 vai para Charles Bukowski, aquele que era genial, em tudo que escrevia, na certa seria genial com o toque de bola, seria o cérebro do time como sempre foi um cérebro do pensamento humano, mas acima de tudo, seria aquele cara que perde o último penalti do time e o leva à derrota, fazendo-o sofrer por toda sua vida e colocando em cheque a sua utilidade na humanidade. Seu erro camuflaria toda a sua genialidade, fazendo-o ter vontade de se matar de um jeito diferente a cada segundo, se martirizando e atribuindo toda a culpa a si próprio.

2 comentários:

  1. Bruno, este texto está simplesmente magistral!
    É incrível e ousada a junção do futebol com grandes personalidades do mundo artístico, literário, cinematográfico, etc.
    Futebol-Arte da Vida é aquele texto que possui a coesão magnífica, o encaixe perfeito.
    Aqui você mostrou sua imensa capacidade de raciocinar com temas analógicos.
    Quanta criatividade!
    Me orgulho muito de você, gatinho.
    Parabéns!
    E como sempre digo: você vai looooooonge.

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  2. Genial mosquito!
    mas já parou pra pensar que gênios intelectuais
    não são bons em esportes?
    difícil imaginar kafka no gol!
    seria o baratão!
    genial!parabéns!

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